Em entrevista exclusiva ao blog dos Quadrilheiros da Paraíba, Lourenço Farias um dos melhores acordeonistas da Paraíba, nascido em 12 de dezembro de 1955, em Cruz das Armas, na cidade de João Pessoa/PB, faz um relato geral de sua trajetória na cultura popular e tradicional paraibana, bem como sua marcante mensagem a todos aqueles que não conhecem o valor da nossa cultura, para aqueles que podem fazer e nada fazem, para aqueles que querem e não sabem como fazer, e para aqueles que já conhecem e podem fazer muito mais. Deixando registrado para todos nós o quão grandiosos e talentosos são os nossos artistas, cabendo a cada um de nós enraizarmos nossa cultura no coração, corpo e alma, levando a todo o Brasil e mundo o nosso talento, a nossa cultura, nossa arte e artistas, como o nosso querido entrevistado Lourenço Farias “Mola”.
Entrevista:
Lúcio: Seja bem vindo ao nosso blog. Por onde tem tocado?
Lourenço Farias: Estou tocando na Sucupira aqui em Mandacaru.
Lúcio: Quando foi a última vez que tocou em João pessoa?
Lourenço Farias: Há anos que não toco na minha terrinha. Andei demais pelas quadrilhas de João Pessoa e de Alhandra. A última que eu toquei não existe mais, “Cascavel” que era em Mandacaru.
Lúcio: Fale-nos um pouco de sua trajetória, como e quando começou sua vida de músico, e de quadrilheiro.
Lourenço Farias: Eu comecei a gostar quando brinquei de quadrilha em uma escola nos anos 60, depois em 1970 meu pai me mandou para uma escola de música, não necessariamente uma escola, mas um professor chamado Laurentino, deficiente visual que ensinava no Instituto dos Cegos. Em 1977 comecei a tocar em uma quadrilha aqui no bairro de Mandacaru, chamava-se “Centrolina” em homenagem ao Centro Proletário de Mandacaru, que depois mudou o nome para “Gruta Funda”, em homenagem de novo a uma quadrilha famosa daqui, chamada “Grota Funda de Zé Dias”. Depois mudou para “Mangereba”, e depois novamente num "racha" concebeu-se a “Cascavel”.
Lúcio: "Mola" é assim que você é conhecido no meio dos quadrilheiros. Porque?
Lourenço Farias: Meu sobrenome é italiano, Lourenço Farias Molla (com dois ll), mas meu povo é de Pernambuco, sou descendente na 3ª geração.
Lúcio : Você passou por muitas quadrilhas de nome no cenário cultural, poderia nos falar que quadrilha você mais gostou e gostaria de tocar novamente ?
Lourenço Farias: Sim, com certeza. Lampião de Mangabeira tocaria novamente porque me projetou no mundo das quadrilhas, além de que a Quadrilha Lampião recicla, investe e fomenta atividades culturais.
Lúcio: Quanto tempo você tocou na Lampião?
Lourenço Farias: Cerca de oito anos sendo cinco vezes campeão, também fui campeão pela FUNJOPE em 2000.
Lúcio: “Mola”, você se sente atingido por preconceito em meio aos quadrilheiros?
Lourenço Farias: Não. Eu faço meu trabalho dependendo do que tem e do que as quadrilhas me mostram. Se eu não gostar do trabalho desisto, como desisti da “Lagero Seco” esse ano, me afino com o folclórico e o tradicional.
Lúcio: Então nas quadrilhas juninas você não é somente um músico?
Lourenço Farias: Só não sou dançarino, mas me consultam porque tenho um acervo de músicas juninas enorme, bem como para fazerem seus repertórios. Mantenho um acervo de vídeo das quadrilhas juninas de JPA, pelo menos a maioria delas tenho documentado.
Lúcio: “Mola” um referência musical no qual você considera um ídolo e marco em sua vida.
Lourenço Farias: Luiz Gonzaga, o maior de todos. O que falou de tudo quanto foi nordeste.
Lúcio: Qual musica que você sempre gosta de tocar e que não pode faltar em seu repertório?
Lourenço Farias: A maioria são baiões do Luiz Gonzaga, mas toco muita coisa de Flávio José, geralmente as pessoas é que pedem então a gente toca, só não toco música de bandas. Raramente se coloca uma no repertório exceto quando tem uma boa letra, sem falar que adoro o Trio Nordestino, que depois do Gonzaga é o bicho. Você pode até estranhar essa minha insistência em tocar músicas antigas, mas é onde o povo tem sua história, seus costumes, suas crenças e eu não posso apagar isso da memória popular, seria como rasgar o retrato dos meus avós, e isso não faço.
Lúcio: É verdade, inclusive os jovens gostam e admiram muito o seu trabalho. O que acha disso?
Lourenço Farias: Olha isso me dá mais força para continuar no projeto, eu gostaria que os jovens se embrenhassem nas coisas que fazem parte da nossa história, que entrassem pelas portas antigas e planejassem o futuro com elas, isso não quer dizer que as coisas antigas tenham que ser seguidas ao pé da letra, mas muitas coisas que erramos hoje se deve ao fato de não aprendermos com as mensagens do nosso passado remoto.
Lúcio: Vamos falar um pouco do seu atual trabalho. Hoje, “Mola” não toca apenas em quadrilhas, mas também tem um belíssimo trabalho realizado no Pastoril Profano, isso é verdade? Pode nos falar um pouco deste trabalho?
Lourenço Farias: É verdade, estou no Pastoril há dezoito anos e também toco em um grupo chamado “Boi dos Cajueiros”, é um boi estilizado, mas não tanto. E ainda mantenho um trio de forró.
Lúcio: De onde é o boi dos cajueiros ?
Lourenço Farias: O boi é do Nélio Torres que trouxe do Rio de Janeiro, a idéia é em JPA formamos um grupo. E já estamos brincando de vez em quando, estivemos no Ceará no encontro de mestres, as fotos estão postadas no meu Orkut, podem comprovar.
Lúcio: “Mola”, você então preserva em sua história esse lado cultura. Qual é a importância de um modo geral?
Lourenço Farias: É aquela que te falei logo no início, não podemos deixar de lado as nossas relações culturais, como diz o meu amigo Cascudo aqui em Mandacaru: “Povo sem história é povo sem memória”. Eu sou uma espécie de guardião dos valores culturais da memória do nosso povo
Lúcio: E família o que acha de seu trabalho ?
Lourenço Farias: Minha mulher dança na Lampião, minha filha mais nova dança na Paraíba e eu estou na Sucupíra, o que você acha?
Lúcio: É a família “Mola” respira cultura, é o que podemos chamar de família cultura muito bem estruturada, você está de parabéns.
Lourenço Farias: Isso porque o pessoal da minha família sempre me viu engajado com a cultura então enveredaram por essas bandas.
Lúcio: Muito bom, enfim, para finalizar deseja falar algo em especial aos nossos amigos leitores?
Lourenço Farias: Que prestigiem mais a nossa cultura se empenhem em facilitar os trabalhos desses propagadores culturais, porque somos nós que fazemos com que a nossa história que também é a história deles não se acabe de uma hora pra outra. Que tenham cuidado em inserir coisas que não fazem parte do nosso ambiente cultural, que defendam a causa e nos tornem mais firmes na questão da nossa cultura de raiz.
Lúcio: Obrigado, e nosso espaço estará sempre aberto a celebridades como você, saudações juninas em nome de toda massa quadrilheira da Paraíba.
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