domingo, 24 de maio de 2009

Em entrevista com Victor Chacon, nascido em João Pessoa, professor de Geografia formado pela UFPB e cursando Turismo também na UFPB, nos fala um pouco de sua trajetória como quadrilheiro e nos mostra sua visão quanto às quadrilhas paraibanas.

Quadrilheiro da Paraíba: Como começou sua trajetória junina?

Victor: Sempre gostei de dançar nas quadrilhas das escolas, adorava os ensaios, já era viciado em quadrilhas e nem me dava conta, mas na verdade o meu pontapé definitivo veio de uma brincadeira e não do real interesse em participar. Fui convidado por uma amiga para acompanhá-la na quadrilha hoje extinta, infelizmente, Quadrilha Costa e Silva em 2001 e não parei mais.

Quadrilheiros da Paraíba: Então é fato que desde cedo já despertava em você o interesse por quadrilhas?

Victor: Sim, acompanhava meus irmãos mais velhos, tenho uma foto ainda de calça enxuta trajado de matuto em 1983, mas foi em 2001 que comecei a acompanhar e no ano seguinte a dançar.

Quadrilheiros da Paraíba: O que faz atualmente na vida?

 Victor: Tenho uma vida muito atarefada, sempre fui assim, inquieto. Sou professor de geografia em uma escola da rede privada e em um cursinho de pré-vestibular. Também faço o Curso de Turismo na UFPB, mas sempre tenho o meu tempo para a dança, sou membro da Quadrilha Lageiro Seco e ainda faço parte da Coordenação, dando apoio na produção do espetáculo mais especificamente na pesquisa do tema.

Quadrilheiros da Paraíba: Há quantos anos você dança na Lageiro?

Victor: Este será o meu terceiro ano, mas antes passei pela Costa e Silva em 2002 em seu último ano, e na Quadrilha Paraíba estive entre 2006 a 2007.

Quadrilheiros da Paraíba: Soubemos que você recebeu um convite recentemente, pode-nos falar sobre isso?

Victor: É verdade e fiquei muito feliz com o convite vindo através de uma amiga. Sabedora da minha pesquisa e convivência com o clico junino, fui convidado por ela em nome do Colégio Marista Pio X, para realizar uma oficina sobre esse movimento junino e sua organização na cidade de João Pessoa. Aceitei de imediato, uma vez que o tema levantado e proposto me daria à oportunidade de falar sobre aquilo que conheço, até mesmo atraindo a curiosidade para um assunto que para muitos passava despercebidos e muitas vezes visto apenas superficialmente.

Quadrilheiros da Paraíba: O que você pensa e como vê as quadrilhas juninas de hoje?

Victor: Certa vez, em uma de minhas leituras sobre o tema, achei um livro intitulado “Quadrilhas Juninas um movimento que não é só imagem“, analisando mais profundamente essa afirmação e levando em conta minha experiência em quadrilhas, percebi que fazer quadrilha hoje é uma grande arte, um desafio. Ocorreu uma grande evolução e acredito que o ponto determinante para esse fato foram os concursos e sem querer polemizar não afirmo se foram positivas ou negativas todas essas mudanças. Antes porém, devemos conhecer os motivos destas mudanças, além de precisarmos entender que hoje não apenas as quadrilhas, mas a cultura popular como um todo tem uma visão capitalista, no qual muitas vezes transforma o São João e as quadrilhas em mercadorias. Lembrei de uma frase que gosto muito de citar: “O São João pode até perder a sua cara, só não pode perder o seu sentido enquanto festejo popular”, aqui no nordeste o São João encontrou uma identificação. Essas mudanças ocorridas, nada mais são do que mudanças de pensamentos, de produção cultural. A cultura não é estática, é dinâmica, e hoje as quadrilhas acompanham também essa evolução.

Quadrilheiros da Paraíba: Fale-nos um pouco mais sobre o seu convite, como pretende realizar sua oficina e o que vai mostrar?

Victor: Na verdade ela já foi realizada na última terça-feira, dia 19 de maio, com uma duração de três horas, e participação de cerca de quarenta alunos. Comentando e para alguns, apresentando o mundo junino, com um destaque especial para quadrilhas, como solicitado pela escola. Busquei de forma rápida conceituar a quadrilha como elemento de representação cultural do nosso povo, nos dando uma identidade. Viajei pela história dos festejos desde os rituais pagãos e sua inclusão o calendário religioso. Também foi mostrada a chegada das quadrilhas no Brasil com a família real e como elas se concebem hoje. O objetivo maior era mostrar essas inovações e denotações que as quadrilhas apresentam hoje. Após este momento, abrimos espaço para perguntas e em seguida apresentação da dança dos passos tradicionais de uma quadrilha matuta e por fim ensinei alguns movimentos das coreografias estilizadas.

Quadrilheiros da Paraíba: Como você se vê passando essas experiências para outras pessoas, que de certa forma nem sabem o real valor de nossa cultura?

Victor: É difícil e ao mesmo tempo desafiador. Na verdade só compreenderão o que é uma quadrilha quando vivenciá-la, mas vejo como ponto importante espaços como este para que seja despertada a curiosidade e a descoberta de um mundo até então novo para muitos e fica a esperança que a partir de então se encontrem com a nossa cultura e tomem gosto.

Quadrilheiros da Paraíba: Nossa cultura está cada vez mais escassa. Em sua opinião o que devemos fazer para que ela não tenha fim?

 Victor: Creio que dando o nosso próprio exemplo, pesquisando, divulgando, representando, sobretudo sentindo essas coisas intangíveis ao nosso olhar. As escolas deveriam ser os pólos geradores desses espaços. Muitas vezes as pessoas não valorizam por falta de oportunidade de conhecer essas manifestações populares, então como cuidar, preservar e valorizar algo que não conheçemos?

Quadrilheiros da Paraíba: Para finalizar, deixe uma mensagem para os nossos amigos quadrilheiros.

Victor: Primeiro quero parabenizá-lo por manter viva essa tradição, que tão bem nos afirma como nordestinos que somos ante a tantas dificuldades, principalmente financeira, onde infelizmente as esferas públicas e privadas não reconhecem ainda o nosso grande valor. Parabéns a todos os quadrilheiros e que vejam na quadrilha uma forma também de socialização. Os concursos nos valorizam, mas as amizades e a união entre os quadrilheiros é a nossa maior conquista em prol da expressão do nosso festejo.

Quadrilheiros da Paraíba: Gostaríamos de te agradecer em nome de todos os quadrilheiros por essa tão grandiosa contribuição a nossa cultura, e desde já ressaltar que nosso espaço estará sempre aberto para você, que é mais um paraibano de destaque.

Victor: Eu é quem agradeço pelo espaço e poder estar divulgando essa nossa representação e parabenizá-lo pela iniciativa do Blog. Parabéns mesmo.

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