A parte profana dos festejos tem como norte, o surgimento da primeira quadrilha junina do bairro, a quadrilha junina Buraco Fundo, do coronel Zé Bedeu, criada em 1953, na Rua Anísio Salatiel, pelo Senhor Graciano Ferreira. Em decorrência de seu falecimento em 1977, o seu irmão Luiz Ferreira, assume a coordenação da quadrilha, o mesmo estando a frente até o presente e que simpaticamente nos concedeu a seguinte fala:
- “Na verdade, quem criou a primeira quadrilha aqui do Roger, foi minha família, foi o finado Graciano meu irmão, a gente começou a ensaiar ali na Anísio Salatiel, no meio da rua mesmo, isso em 53, a gente começou a ensaiar no dia 10 de março de 1953, de repente rapaz, apareceu tanta gente nesse mundo... e sabe o que era engraçado? É que só tinha mulher, elas dançavam uma com a outra, já pensasse (risos), depois foi que chegando os homens que ficavam antes só olhando. Nesse mesmo ano, só que lá pra setembro, começou a Espigão, só que ela não era aqui no alto onde ela ta agora não, era lá em baixo, perto da praça da SOCIC, e quem fundou e tava na frente dela era Pedin do Ó, ai ficou duas quadrilhas aqui no bairro, a gente e a de Pedim lá pra baixo, esse nome da quadrilha da gente num durou muito tempo não o povo se juntou ai decidiu mudar de nome foi quando ficou: Quadrilha Lageiro Seco, do coronel Zé Bedeu.”
Percebe-se pela fala dos moradores o tom de nostalgia e bastante emoção pelos que vivenciaram essa época, muitos foram aqueles que durante a pesquisa se emocionaram e contavam detalhes de cada vivência sua.
O caráter coletivo de produção era mantido em sua essência como se faziam nas antigas festas pagãs e até mesmo na inclusão desses festejos no calendário cristão. A preparação do arraiá, desde a escolha para a sua instalação que quase sempre ocorria nos terrenos baldios, se dava mediante apelo da população junto ao proprietário, que na maior parte das vezes cedia sem maiores complicações. Depois de conseguido o terreno, a população se encarregava de sua construção.
- “Era interessante demais rapaz, porque era uma coisa que a comunidade fazia com gosto, se juntava homem, mulher, velho, menino e iam pegar no mangue pau para construir o pavilhão, a gente passava o dia todinho no mangue procurando os paus, aí agente trazia os mais grossos, depois fazia uma cotinha com as pessoas que participavam da quadrilha, pra comprar papel de seda e barbante pra fazer as bandeirinhas que a gente colocava com grude feito de maisena, todo mundo ajudava, até quem não dançava. Hoje a gente não vê mais isso!”.
Esses pavilhões onde na época realizavam-se as quadrilhas serviam além de lugar para ensaios e apresentações, para o povo se reunir, brincar, soltar fogos, se encontrarem, construindo coletivamente o seu brincar. Neles se realizavam os bingos que serviam para arrecadar dinheiro para pagar o aluguel do som da festa e juntava toda a população que atenta marcavam suas cartelas, objetivando o prêmio que variava a cada ano, de acordo com o que fosse conseguido através de doações pelos comerciantes do bairro.
As brincadeiras eram outras atrações dos pavilhões, preenchendo o tempo e animando os participantes e convidados que chegavam a vir de outros bairros para apreciarem os festejos, antes das grandes atrações da noite, as quadrilhas, entrar em cena. Eram comuns as brincadeiras da dança da laranja, onde se formavam os pares, que dançavam tentando equilibrar na testa a fruta, vencendo o casal que passava mais tempo com a laranja equilibrada. Na brincadeira da dança da vassoura, organizavam-se dois cordões, um de homem e outro de mulheres, onde de cada vez um cavalheiro convidava uma dama para dançar, cabendo ao cavalheiro dançar com a vassoura caso a dama lhe virasse as costas, indicando a recusa do convite. Dentre as brincadeiras realizadas a mais engraçada para o público era a da farofa, onde os participantes, geralmente dois, deveriam “comer um prato” cheio de farinha, ganhando aquele que em meio aos engasgos, conseguisse comer o prato primeiro. Eram comuns também as brincadeiras que traziam como prêmio alguma quantia em dinheiro dentre as realizadas dentro do pavilhão, citamos a corrida do cordão (ver fig. 2.3), descrita por seu Luiz Ferreira:
- “A gente colocava dois componentes da quadrilha, um de cada lado do pavilhão e colocava um barbante na boca de cada um, no meio desse cordão tinha um dinheiro que a gente botava amarrado e quem conseguisse sem a ajuda das mãos, usando só a boca, engolindo o cordão, chegar primeiro na nota, ganhava ela como prêmio”.
A Lageiro Seco, fundada em 1953, pelo senhor Graciano Ferreira, que inicialmente ganha o nome de Fazenda Buraco Fundo do coronel Zé Bedeu, e que em 1978, com o falecimento de seu fundador, passa a ser organizada pelo irmão, Luiz Ferreira, que está á frente da quadrilha ate hoje. Representando o baixo Roger, a quadrilha, hoje com 54 anos, é a atual bi-campeã municipal e penta-estadual, tendo conseguido no ultimo concurso regional realizado em 2006, aqui no estado, a melhor colocação de uma quadrilha paraibana no evento obtendo a 3ª colocação. Tendo ainda sua participação na novela Celebridade, exibida em horário nobre na Rede Globo no ano de 2004.
Grandes quadrilheiros passaram pela quadrilha junina Lageiro Seco, tais como o então presidente da liga de quadrilhas juninas de João Pessoa, Edson Pessoa, o presidente da quadrilha Junina Paraíba, Luciano Peixoto, Paraguaçu da quadrilha Sucupira entre outros grandes nomes.
Pelo que sabemos o senhor Luiz, tentou por diversas vezes afastar-se da quadrilha onde ficou a frente como coronel e dançarino até o ano de 1997, onde por sua vez passou o cargo de Coronel a Marcio Mendes, que já o acompanhava desde a quadrilha infantil, a partir de então Marcio não parou mais e, em seu primeiro ano como Coronel da quadrilha venceu o concurso paraibano de quadrilhas juninas.
A quadrilha Lageiro Seco tem em sua trajetória muitas conquistas, e esse ano irá apresentar um espetáculo que marcará a história das quadrilhas da Paraíba, com o tema “ Esperei o ano inteiro, puxa o fole sanfoneiro, bate forte zabumbeiro no coração da Lageiro ” segundo Marcio e, com seu projeto audacioso chegou ultrapassar o orçamento da quadrilha, com cerca de R$ 150,000,00 (cento e cinqüenta mil reais), um marco para história das quadrilhas paraibanas. Virão com cerca de cento e cinquenta dançarinos, vinte contra regras, cinco atores e doze músicos em sua banda, na qual é regida pelo grande maestro Joselito Silva, que também já foi maestro das quadrilhas Jovem Matuto, Aconchego e Paraíba e garante que esse ano formou umas da melhores estruturas em termos de músicos da Paraíba.
De acordo com Marcio, a quadrilha Lageiro Seco virá com um novo estilo, novas tendências surgindo uma nova era de quadrilhas juninas na Paraíba. Disse ainda que o espetáculo desse ano vai mexer com o emocional do publico quadrilheiro, sempre colocando sua fé a frente de seu trabalho e em 2009, a quadrilha Lageiro Seco virá para mudar o cenário das quadrilhas juninas da Paraíba.
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